Alterações clínicas e hematológicas em tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) vítima de incêndios no Pantanal Mato-grossense: Relato de caso

As queimadas que ocorreram no ano de 2020 no Pantanal trouxeram intensos prejuízos à fauna e flora da região, sendo que o tamanduá-bandeira foi um dos mamíferos mais afetados pelas queimadas. O presente trabalho teve como objetivo descrever alterações hematológicas encontradas nos exames laboratoriais de um tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), vítima dos incêndios ocorridos no Pantanal mato-grossense, correlacionando-as ao quadro clínico do animal. O paciente foi resgatado no mês de setembro de 2020 com lesões graves por queimaduras nas regiões de membros e face. Após quatro dias de internação (D4) foi feita colheita de sangue para a realização de hemograma e bioquímica sérica. Notou-se diminuição nos valores de eritrócitos (0,98 x 106/mm3; 2,05 – 2,67 x106/mm3), hemoglobina (4,8 g/dl; 10,6 – 12,9 g/dl) e hematócrito (16%; 35,44 – 40,1%), contagem total de leucócitos dentro dos valores de normalidade (16,0 x 103/mm3; 5,59 – 18,14 x 103/mm3), com desvio à esquerda degenerativo, presença de metamielócitos (0,7 x 103/mm3; 0 – 0 x 103/mm3), bastonetes (5,2 x 103/mm3; 0 – 0,06 x 103/mm3) e segmentados (5,1 x 103/mm3; 3,91 – 3,88 x 103/mm3). Os eosinófilos (3,4 x 103/mm3; 0,08 – 1,86 x 103/mm3), monócitos (0,5 x 103/mm3; 0,01 – 0,2 x 103/mm3) e plaquetas (168 x 103/mm3; 52,2 – 134,4 x 103/mm3) estavam aumentados e os valores de proteínas plasmáticas totais diminuídos (4,2 g/dl; 7,77 – 8,42 g/dl). Os valores de ALT (121 UI/L; 7,51 – 23,47 UI/L), AST (143 UI/L; 13,62 – 28,62 UI/L) e CK (13252,0 UI/L; 41,45 – 81,77 UI/L), mostraram-se significativamente aumentados e de proteínas totais diminuído (4,8 g/dl; 5,49 – 6,61 g/dl). Queimaduras de segundo e terceiro graus em tamanduá-bandeira podem causar desvio à esquerda degenerativo, anemia intensa, hipoproteinemia e alterações marcantes de enzimas que avaliam dano muscular. O impacto das queimadas no Pantanal mato-grossense no ano de 2020 precisa ser avaliado, sendo necessária a implantação de políticas públicas de combate aos incêndios mais eficazes.